Fotos: Eduardo Ramos (Diário)
A primavera é conhecida por ser uma estação bela, ensolarada e cheia de cor. Porém, para quem sofre de doenças respiratórias, em especial a rinite alérgica, o período também é sinônimo de espirros, coceira e nariz obstruído. O principal agravante desses sintomas é o aumento da produção de pólen das flores e plantas, carregado por abelhas e transportado pelo vento.
A médica otorrinolaringologista Mariana Zago de Moraes explica que a rinite alérgica é resultado da resposta exagerada do corpo ao contato com determinadas substâncias identificadas como alérgenas, o que colabora para o aumento da inflamação na mucosa nasal. Isso explica o porquê da coceira excessiva do nariz ao entrar em ambientes empoeirados.
Conhecer a causa das alergias é a melhor forma de combatê-las.
– O pólen, assim como a poeira, ácaros, fungos e pelos de animais, é um tipo de alérgeno comum que pode desencadear rinite alérgica – explica.
Na prática, os sintomas são parecidos, mas quem sofre com a rinite não-alérgica não precisa necessariamente de um alérgeno para desencadear os sintomas, mas sim de fatores ambientais, como fortes odores e umidade — também características da estação das flores.
Qual o tratamento?
Por enquanto, a rinite alérgica não tem cura, mas os especialistas da área recomendam tratamentos ideais e específicos para cada caso. A médica Mariana explica que cuidados diários com a higiene pessoal podem controlar e prevenir crises. No inverno, a falta de ventilação da casa faz com que os ácaros se proliferem rapidamente e acumulem no ambiente. Além do frio, a umidade também é responsável por desencadear crises alérgicas, já que provoca irritação na mucosa.
– Manter a casa, principalmente os quartos, ventilados, evitar o acúmulo de poeira e o contato com fumaças são algumas das estratégias que podem ser usadas. Em casos mais severos, o paciente pode optar pelo uso de medicações específicas por meio de comprimidos ou sprays nasais de corticoide, que possuem ação na mucosa nasal e controlam muito bem os sintomas.
Apesar de não ter cura, a rinite alérgica pode ser controlada e, assim, diminuir o número de crises.
Quando nenhum dos medicamentos traz resultados, o paciente pode encontrar outra opção para aliviar os sintomas.
– Também existem as vacinas para rinite, que chamamos de imunoterapia. São indicadas em casos bastante específicos, e também podem ajudar a reduzir drasticamente os sintomas – explica a médica.
A aplicação pode ser feita em pacientes a partir dos cinco anos e o valor varia entre R$100 e R$300, conforme o alérgeno e a concentração que será aplicada. Para um melhor resultado, a vacina deve ser feita periodicamente, com intervalo que varia de acordo com cada caso. O procedimento é feito em consultório por médicos alergistas e pode ser realizada de forma subcutânea, agindo diretamente nas células do sistema imunológico que provocam reações alérgicas. Até o momento, o Sistema Único de Saúde (SUS) não fornece a vacina, porém, é possível fazer o tratamento através de convênios particulares.
O imunizante contém corticoide na sua composição, e um de seus efeitos colaterais no organismo é a retenção de líquido, causada pela alteração na eliminação de sódio, colaborando para o inchaço corporal. Nesses casos, o paciente precisa colocar na balança os prós e contras do tratamento.
Marjani Oliveira, de 27 anos, sofre com o combo coriza, olhos inchados e espirros desde os 13 anos. Ela nunca tomou a vacina, porém, em 2019, realizou um tratamento com spray nasal durante dois meses, o que reduziu consideravelmente as crises. Na primavera, o aumento significativo da coceira, garganta e nariz são notáveis, por isso ela inclui na rotina hábitos que ajudam a melhorar a sua qualidade de vida.
– Tenho sorte de o meu apartamento ser arejado e não ter mofo, mesmo com a umidade de Santa Maria. Sempre tiro o pó, uso aspirador, arejo bem, além de trocar a roupa de cama com frequência, abro as portas do roupeiro, faço de tudo – relata.
Aos 19 anos, Murilo Gallina Xavier, conta que também sofre com coriza e espirros desde muito pequeno. Apesar de evitar o uso de medicamentos, o estudante de Agronomia optou por investir na vacina.
– Comecei meu tratamento há uns 4 anos, parei de tomar tem 1 ano. Para mim, hoje, os sintomas de rinite são quase zero, e o único efeito colateral era coceira na região da aplicação.
Descongestionantes nasais: alívio perigoso
Mariana reforça a diferença entre os sprays nasais – receitados por médicos, com tratamento específico e controlado – e os descongestionantes nasais – vendidos sem prescrição e usados sem orientação.
No caso dos descongestionantes, após a aplicação do remédio, os vasos do nariz se contraem, o fluxo de sangue diminui e reduz o edema da mucosa, o que faz com que a pessoa respire melhor. Porém, o que muitos pacientes não sabem, é que o uso pode ser prejudicial e causar dependência.
A médica explica que esse tipo de medicamento provoca a sensação de alívio porque “desincha” os vasos, mas causa efeitos negativos a longo prazo. Depois de algum tempo de uso, o efeito tende a diminuir no corpo, o nariz volta a ficar entupido, fazendo com que a dose usada seja cada vez maior.
Após três anos de uso e inúmeros descongestionantes comprados, aos 27 anos, o estudante de Engenharia Civil, Luan Somavilla, procurou ajuda médica para deixar o “vício” de lado. O tratamento durou cerca de 3 meses, atrelando o uso do spray de corticóide e comprimidos anti-alérgicos.
– Eu tinha uns cinco frascos. Um em cada mochila, um em casa e outro no trabalho. Decidi parar de usar porque não aguentava mais, não conseguia ficar sem de jeito nenhum. Fiquei feliz porque parei, mas meu nariz nunca mais foi o mesmo. Nunca mais mesmo.
Segundo Mariana, o organismo possui um mecanismo de compensação chamado vasodilatação reativa, e após o uso do descongestionante, o nariz “incha” em dobro, o que provoca o vício na substância. Quando prescrito pelo médico, o uso do medicamento não pode ultrapassar 7 dias consecutivos.
– É muito importante não confundir com os corticoides nasais, que não causam vício e podem ser usados por longos períodos – reforça Mariana.
Gripe, resfriado, covid ou rinite?
Antes de buscar ajuda profissional e encontrar o tratamento adequado, muitos pacientes ficam confusos sobre o que está afetando a sua saúde de fato. Os sintomas de rinite, gripe e resfriado e até da covid-19 são muitos semelhantes, o que faz com que muitas pessoas não saibam como agir. Saiba como diferenciá-los:
O resfriado pode ser causado por mais de 200 tipos de vírus e causa coriza, irritação na garganta e no nariz. Nesse caso, febre ou dores musculares são raras, com uma evolução mais lenta.
A gripe é causada pelo vírus Influenza, que muda a cada ano, por isso é importante que todos garantam a prevenção através da vacina. Na gripe, os sintomas surgem de um dia para o outro e costumam ser bem mais fortes do que os do resfriado. Além do incômodo na garganta e no nariz, mal-estar, febre e dores no corpo também são comuns.
Já a covid-19 não possui um padrão definido de sinais e sintomas. Na maioria dos casos, a evolução é gradual e a doença se agrava em torno do 8º dia após o início dos sintomas. É de extrema importância monitorar os sintomas e procurar ajuda médica o quanto antes.
Em qualquer um desses casos, é fundamental estar atento aos sintomas e procurar um profissional de saúde para esclarecer dúvidas e fazer o tratamento adequado.
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Ministério da Saúde. Asma e Rinite: Linhas de Conduta em Atenção Básica. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ASMA_RINITE.pdf
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Imunoterapia Alérgeno-Específica. https://amb.org.br/files/_BibliotecaAntiga/imunoterapia_alergeno_especifica.pdf
Doenças Respiratórias Crônicashttps://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_respiratorias_cronicas.pdf